domingo, 18 de novembro de 2012


‘El Sistema’ de Orquestras Juvenis de Venezuela, por Francesco Valente
































(Gustavo Dudamel, fotografia tirada numa favela de Caracas )

A literatura do ‘multiculturalismo’ sobre a educação geral e em particular musical é muito rica, e é
muitas vezes centrada na questão do ensino da música numa perspectiva ‘multicultural’ e de
integração, sendo caracterizada pela implementação da música ocidental, e sobre a necessidade
de estudar vários tipos de música. Um dos acontecimentos do século XX, do ponto de vista social,
económico e cultural mais significativos na Venezuela, foi a criação e o desenvolvimento de El
Sistema de Orquestras Infantis e Juvenis (“El Sistema”), cujo mentor foi José António Abreu.
Um instrumento revolucionário para combater a pobreza, onde a música é utilizada como instrumento
de coesão dos distintos grupos sociais, promovendo as classes mais pobres: dos quase 300.000
músicos integrantes a maioria são de bairros pobres, que frequentemente tocam instrumentos doados,
emprestados, normalmente entre os participantes temos crianças e jovens, alguns com problemas ou
handicap. Na metade de 2007 o pais estava contando com 135 orquestras e 75 coros integrados no
Sistema, que contava com mais de mil colaboradores para assegurar seu funcionamento e sua
coordenação.
‘El Sistema’ além da instrução musical específica, que utiliza métodos inovadores, desenvolve
seminários sobre a construção e reparação de instrumentos musicais, e outras actividades variadas
com meninos a partir dos dois anos de idade. ‘El Sistema’ começou por volta de 1975, e seu
fundador foi, ironia da sorte um doutorado em economia petroleira. Foi adoptado depois pelo
governo de Chavez como seu “novo programa social do governo bolivariano”, com um certo
oportunismo político por querer adoptar e identificar-se num dos programas mais originais e de
êxito que foi ensaiado no pais para combater a pobreza. No entanto, para a surpresa de muitos, para
o orgulho da região, e para o deslumbramento de personagens como Cláudio Abbado, Plácido
Domingo, Ratlle o Daniel Barenboim, Venezuela oferece ao mundo hoje um exemplo de como se
pode reduzir a pobreza por meio da arte.
‘El Sistema’ leva já 33 anos produzindo bons músicos e exportando um modelo de gestão cultural:
para o grande público, a personagem mais famosa é Gustavo Dudamel, Director Musical da
Orquestra Sinfónica Juvenil Simón Bolívar de Venezuela, que com 27 anos de idade, conta com
um curriculum invejável, tendo ja dirigido varias orquestras pelo mundo fora. Mas parte da
explicação do sucesso deste projecto se deve ao seu fundador Jose Antonio Abreu, que alem de
ser musico, é economista: sua obra atravessou nove legislaturas, entre golpes de estados e crises
do petróleo, e se espalhou pelo mundo fora atravessando continentes, e representando um modelo
de ensino e de abordagem pedagógica. Um exemplo disto é a Orquestra Geração, que representa
este programa inovador aqui em Portugal, gratuito para as crianças, e que foi concebido
principalmente com base no próprio modelo das Orquestras Sinfónicas Infantis e Juvenis de
Venezuela. Contando na coordenação pedagógica e artística com dois músicos venezuelanos aqui
residentes e ainda o apoio de vários formadores do ‘El Sistema’, que se têm deslocado a Portugal
por ocasião dos estágios de Verão da Orquestra, o projecto enquadra cerca de 80 professores, na
sua maioria jovens músicos recém formados (a quem é ministrada formação na metodologia do
sistema) e que aqui encontraram a sua primeira oportunidade de trabalho. A Orquestra Geração já
conta no seu currículo com várias apresentações públicas em Lisboa e arredores.


Para quem queira saber mais aconselho os seguintes vídeos:







por Francesco Valente, Músico, Autor, Compositor, Mestrando na área de especialização em
Etnomusicologia

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Review do novo album do Luis Vicente Trio, com Luis Vicente, Oori Shalev e Francesco Valente.
"Outeiro", pela Jacc, 2012


http://www.bitaites.org/artamente/jazz-com-cores-portuguesas/




terça-feira, 6 de novembro de 2012

Un'altra perla dal maestro Franco Battiato!...in che modo riesce a raccontarci storie antiche, come quella du Sherahazad, dalle "Mille e una notte"...con quale musicalita, con quale sapienza mescola musica classica, con elettronica e popolare!..grazie maestro!


sexta-feira, 2 de novembro de 2012




Pinturas de Franz Post "Itamaraca" de 1637, e de A.Eckout "Mulher Tupinamba com criança" de 1641. São dois exemplares de um corpus de obras dos dois pintores flamingos, que acompanharam o M.de Nassau durante a ocupação holandesa do Nordeste do Brasil: foram também as primeiras pinturas de artistas europeus no novo mundo.

you can see some more paintings here:
http://www.tumblr.com/tagged/frans-post

quinta-feira, 18 de outubro de 2012


Orquestras e casos de iniciativas sociais em situações de conflito, por Francesco Valente

Vedran Smailovic na foto (marylea blog)
Se a cultura entendida como expressão de artes, drama, dança, filmes, desporto e música nunca provocou conflitos, muitas vezes a questão das diferenças culturais foi utilizada para justificar disputas políticas e económicas.
A cultura tem de ser considerada um elemento para promover a paz: neste quadro o Akiko Fukushima  indica-nos situações em que a música foi utilizada neste sentido.
Durante a guerra na Bosnia, o violoncelista Vedran Smailovic, o “violoncelista de Sarajevo”,  tornou-se o símbolo da coragem e resistência não violenta frente ao horror da violência e do sofrimento humano.
A Orchestra Without Borders, liderada por Mayo Shono, ofereceu instrumentos para crianças em zonas de conflito, concertos e workshops. Daniel Barenboim, israelita, com Edward Wadie Said, palestiniano, fundaram a West-Eastern Divan Orchestra em ’99, em ocasião do 250º aniversário do escritor alemão Goethe, Barenboim convidou mais de 70 jovens músicos de Israel, Palestina e outros estados árabes como Jordânia, Líbano, Síria, Egipto, Turquia e Irão.
Segundo Barenboim, a orquestra luta contra a ignorância e o resultante conhecimento servira para começar a paz entre Israel e Palestina. Said definiu a orquestra como uma ‘ponte para a coexistência’ e, segundo Barenboim, o objectivo da orquestra é o de mostrar aos jovens como a solução militar pode ser inadequada.
O sonho de Barenboim é o de trazer tal orquestra a todos os países dos músicos membros, mas tem anualmente imensos problemas, devido ao conflito e a contrastes por parte das autoridades políticas.
Balkan Chamber Orchestra, sob a direcção do Toshio Yanagisawa, fundada em 2007, reúne músicos sérbios, macedones, albaneses. Foi a primeira orquestra multi-étnica depois da guerra de Kosovo. O maestro afirma que a orquestra não é um instrumento para conseguir a reconciliação, mas para a representação de uma riqueza comun.
As orquestras acima citadas tiveram que lidar com situações políticas e regionais particulares, onde os próprios maestros tiveram que assegurar e fazer-se garantes da segurança física dos músicos membros sob ameaça de hostilidades políticas e étnicas, além de lutar contra a falta de preparação técnica, por vezes por parte de músicos que não tem acesso a uma formação digna no seu habitat.
Os maestros vêem na orquestra um microcosmo da comunidade, onde cada membro dá o seu contributo, com o objectivo de apresentar música com a melhor qualidade possível ao público, apesar disto poder significar o superamento por parte dos músicos de traumas devidos ao seu passado, neste contexto, às memórias do conflito.
As performances efectuadas em zonas críticas de guerra, que tiveram um grande impacto nas comunidades (Ramallah, Mitroviça, Sarajevo etc.), deram a estes músicos também a possibilidade de conseguirem um futuro como músicos profissionais internacionais.
As actividades culturais podem claramente contribuir para a resolução de conflitos, e são significativos ingredientes para a prevenção de conflitos, resolução, manutenção e construção da paz. A cultura pode efectivamente ajudar e implementar a comunicação entre pessoas e membros de grupos hostis.

Francesco Valente (Músico*, Compositor, Autor italiano a residir em Lisboa, Mestrando na área de especialização em Etnomusicologia)
*Francesco Valente é músico em Orquestra Todos, Tora Tora Big Band, Terrakota, Quinteto de jazz (com Guto Lucena-Sax, Johannes Krieger-Trompete, Iuri Gaspar-Piano, Miguel Moreira-Bateria), entre outros
nota: MoFrancesco Quintetto, aqui: https://mofrancescoquintetto.bandpage.com/